Protagonismo Feminino na Ciência Amazônica

Publicado em: 11 de fevereiro de 2025

Revista do Instituto Mamirauá ressalta a atuação das mulheres na pesquisa e as ações do Programa Mulheres na Ciência.

“Para ser cientista é preciso ter uma característica muito natural para os seres humanos, em especial, para crianças: a curiosidade”. Este é um trecho da revista O Macaqueiro Kids, publicação do Instituto Mamirauá, em uma edição dedicada a meninas e mulheres na ciência. Apesar da curiosidade ser inerente ao ser humano, e da extensa luta em favor da diversidade de gênero, raça e etnia no mundo científico, é ainda necessário que se fortaleça a presença e permanência de meninas e mulheres na ciência. 

No mundo, a porcentagem média de pesquisadoras é de apenas 33,3% e, mesmo assim, somente uma pequena parcela destas mulheres ocupam cargos de liderança. Para que este cenário mude, e mais mulheres tenham a oportunidade de seguir a carreira científica, foi criado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro. A data foi implementada em 2015 pela UNESCO e pela ONU-Mulheres, em colaboração com instituições e sociedade civil. 

Uma pesquisa recente, intitulada “O que os jovens brasileiros pensam da ciência e tecnologia”, revelou que dentre os cientistas mais lembrados pelos entrevistados, todos são do gênero masculino. A pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), também chamou a atenção de que jovens da região Norte do Brasil demonstraram ter mais interesse em ciência e tecnologia do que aqueles que vivem em outras regiões. Além disso, de modo geral, este interesse é maior entre homens, com escolaridade mais elevada (ensino técnico e superior). O cenário revelado reforça a necessidade de maior investimento na formação acadêmica e na popularização da ciência para diferentes faixas etárias, sobretudo dando visibilidade à atuação de cientistas mulheres do Norte do país.

Para incentivar e reconhecer a presença feminina na ciência na Amazônia, em 2022, foi criado o Programa Mulheres na Ciência do Instituto Mamirauá. Desde então, o programa fomentou mais de 30 projetos de pesquisa científica na Amazônia, com bolsas de pesquisa concedidas a mais de 28 meninas e mulheres em diversas modalidades e áreas de conhecimentos. O programa tem oportunizado a continuidade tanto de formação e capacitação de pesquisadoras locais e de outras regiões, quanto proporcionado que os conhecimentos por elas gerados contribuam no cenário acadêmico e na aproximação da sociedade com a ciência. E nesses encontros, contribuímos para a maior presença de mulheres na ciência e inovação, diversificando e complexificando os saberes e as formas de ver o mundo”, explica Patrícia Carvalho Rosa, pesquisadora e coordenadora do programa no Instituto Mamirauá.

Dentre os projetos do Programa Mulheres na Ciência, há aqueles de apoio técnico, com intuito de formar e capacitar pesquisadores para atuarem nas curadorias de acervos institucionais. É o caso do trabalho, realizado pela pesquisadora Mariana Lobato de Carvalho Martins, no acervo de amostras biolo?gicas de mami?feros aqua?ticos amazônicos. Este acervo resguarda informac?o?es cruciais para o entendimento da dina?mica populacional, conservac?a?o e manejo das espe?cies, aliado à divulgac?a?o a? sociedade, despertando a curiosidade científica. 

O programa nasceu da possibilidade de fomentar oportunidades para jovens estudantes locais ocuparem espaços na produção de conhecimento, e seguirá atuando fortemente nesta direção, destaca Patrícia. O Programa Mulheres na Ciência do Instituto Mamirauá é financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). “Na medida em que as fontes de financiamento mantiverem o suporte, o programa vislumbra seguir abrigando novos projetos e concedendo mais oportunidades para mulheres cientistas na região”, finaliza a coordenadora do programa. 


O Macaqueiro Kids - Meninas e mulheres na ciência

A edição da revista O Macaqueiro Kids sobre meninas e mulheres na ciência, publicada em 2024, foi elaborada por uma equipe de pesquisadoras e analistas de diferentes áreas do Instituto Mamirauá. A publicação é parte das ações previstas no Programa Mulheres na Ciência, e tem o intuito de convidar a todos a conhecerem a trajetória de mulheres cientistas que atuaram, e atuam, no Brasil, com destaque para o estado do Amazonas. Com conteúdo inspirador para pessoas curiosas (e quem sabe, para futuras cientistas), a revista é voltada para o público infanto-juvenil e conta com ilustrações de mulheres cientistas reais, ou seja, de diferentes cores, formatos de corpo, etnias, idades, gestantes ou não, com ou sem deficiência. São mulheres diversas.

0a8f5e9377f31ef91ec876d993b19b40

Revista O Macaqueiro Kids - Meninas e mulheres na ciência. Ilustração de Norberto Ferreira. 


Dentre a narrativa de vida de mulheres que decidiram seguir a carreira científica, as barreiras estão frequentemente presentes, como a sobrecarga com cuidado da casa e da família, além da falta de reconhecimento por esta dedicação. No entanto, o incentivo da família e amigos é parte importante dos relatos de mulheres que decidiram quebrar estas barreiras. Na seção Reportagem Especial da revista, encontramos as experiências de quatro jovens cientistas amazônicas, bolsistas do Programa Mulheres da Ciência e Inovação do Instituto Mamirauá. Seus relatos destacam como a curiosidade foi a força propulsora para que a ciência fosse escolhida como uma profissão, apesar das dificuldades sociais, políticas e econômicas da vida no interior do Amazonas. “É preciso querer e sonhar. Não desistir, ter curiosidade e não ter medo, apesar dos desafios”, disse Kailane Balieiro da Silva, em entrevista para a revista O Macaqueiro Kids.

95f80ab53d9f951168026a70228d2711

Jovens cientistas amazônicas contam suas experiências para inspirar meninas e mulheres na ciência. Ilustração de Norberto Ferreira. Fotos: Acervo Ascom / Instituto Mamirauá


Já a seção Ciência na Prática da revista traz a reflexão sobre como o mundo pode ser melhor com a ciência. São destacadas as descobertas de impacto global e local realizadas por cientistas, como: Jaqueline Goes de Jesus, conhecida por realizar o primeiro sequenciamento genético do vírus que causa a doença Covid-19 (SARS-CoV-2); Milena Pinho Barbosa, que se dedica à pesquisa do acesso à água potável na cidade de Tefé (AM); e Francielly Rodrigues Barbosa, com sua pesquisa sobre a fabricação de tijolos a partir de caroços de açaí, em Moju (PA). 

A ciência, para que seja amplamente diversa de ideias e de atores, necessita ser desenvolvida dentro de um contexto social e econômico seguro, com ampla divulgação para a sociedade. Programas que fomentem a presença de mais meninas e mulheres na ciência têm o potencial de transformar relatos de superação da pobreza e do preconceito em histórias incríveis sobre o mundo das descobertas científicas, da geração de conhecimento e da mudança da realidade.

Texto: Bianca Darski




Miguel Monteiro

Últimas Notícias

Comentários

Receba as novidade em seu e-mail: