Para proteger e conservar: comunidades da Amazônia monitoram três espécies de quelônios

Publicado em: 14 de dezembro de 2017

Trabalho de conservação de iaçás, tracajás e tartarugas-da-amazônia em uma unidade de conservação no estado do Amazonas tem assessoria do Instituto Mamirauá

Localizada no coração do estado do Amazonas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é nascedouro para centenas de iaçás, tracajás e tartarugas-da-amazônia, ano após ano. Todo mês de agosto, durante a temporada de seca dos rios, os quelônios procuram praias e margens de lagos da reserva para a desova de ovos. É também quando começam as atividades de conservação, feitas voluntariamente por moradores de comunidades próximas às regiões de "berçário" dos animais. Chamado de conservação comunitária, o trabalho recebe assessoria do Instituto Mamirauá e registrou, até o momento, a desova de 454 fêmeas de quelônios em 2017.

O cálculo é feito a partir da contagem da quantidade de ninhos formados na areia dos locais monitorados; cada ninho corresponde a uma fêmea. Desse total, a grande maioria é obra das pequenas iaçás (Podocnemis sextuberculata), com cerca de 82%; em segundo lugar ficaram as tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), responsáveis por 12,7%; e, por fim, os tracajás (Podocnemis unifilis) com 5,3% dos ninhos contabilizados.

Os resultados são preliminares (a contagem será concluída ao final do período de nascimento dos quelônios, em janeiro), mas já dão um demonstrativo da temporada e ajudam no entendimento da ecologia desses animais nas áreas monitoradas, como e explica a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Marina Secco. "É importante fazer o acompanhamento em longo prazo dos quelônios, registrar os dados de reprodução e nascimento para, futuramente, poder trabalhar o manejo das espécies e para que as populações da reserva possam consumir os animais de maneira sustentável", afirma.

Nesse ano, o monitoramento de praias e beiras de lagos foi feito em sete comunidades da Reserva Mamirauá: Novo Tapiira, São Francisco do Bóia, Porto Braga, Horizonte, Caburini, Viola do Panauã e São Raimundo do Panauã. Até o mês de dezembro, quatro das comunidades entregaram os dados de conservação comunitária de quelônios.

Guardiões da praia e das margens dos lagos

De agosto a janeiro, os comunitários se revezam para percorrer diariamente as praias e margens de lagos onde a desova acontece. Em fichas de papel, anotam todos os ninhos que encontram ao longo do caminho. Uma formação circular ou um "remexido" na areia pode ser indício de ninho, o que os olhos experientes da reserva logo confirmam. Outro dado importante é a quantidade de ninhos que foram atacados por predadores, incluindo seres humanos.

O Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), acompanha o monitoramento mensalmente in loco com as comunidades. A pesquisadora Cristiane Araujo segue a rotina dos vigilantes, dando orientações sobre o processo de coleta de dados e também aprendendo técnicas práticas de reconhecimento de ninhos. Em parceria com os moradores da reserva, o Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Quelônios do instituto está desenvolvendo uma metodologia de contagem nessa região de várzea.

Na fase final do período reprodutivo, quando os ovos eclodem e os filhotes de quelônios começam a sair nas praias e lagos, os pesquisadores recolhem as fichas para fazer a análise da temporada. Para evitar a predação ou o afogamento com a subida de nível dos rios, alguns comunitários recolhem os recém-nascidos e os acomodam em tanques provisórios, onde são cuidados por cerca de uma semana, e são restituídos à natureza. No último mês de novembro, nos arredores da comunidade Porto Braga, cerca de 800 filhotes de quelônios foram soltos pelo trabalho de conservação comunitária.

Texto: João Cunha

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