Porque os ecossistemas tropicais são tão diversos?

Publicado em: 28 de agosto de 2025

Os cientistas estão sempre tentando explicar os motivos pelos quais os ambientes tropicais são tão ricos, tão biodiversos. Mas até hoje não sabemos exatamente quais são todos os processos ecológicos que criam e mantém esta diversidade. E, portanto, ainda não sabemos quais serão os resultados dos impactos humanos sobre a grande diversidade de espécies que vivem em ambientes tropicais, justamente num momento em que o mundo atravessa por grandes transformações ambientais e uma crise climática bate à nossa porta. 

Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Mamirauá em parceria com a doutora Anne Magurran, professora de Ecologia e Evolução do Centro de Diversidade Biológica da Universidade de St Andrews, buscamos entender o que explica a maior diversidade de espécies dos ambientes tropicais. Nesta pesquisa, nós testamos a ideia de que os altos níveis de mudanças ambientais nos lagos de várzea amazônica são um fator que limita a capacidade das espécies em dominar esses ambientes, ou seja, se tornar muito abundantes e influenciar as demais espécies. 

O estudo, publicado na revista Science Advances, foi desenvolvido em lagos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, região que concentra uma das mais altas riquezas e abundâncias de peixes de água doce do mundo. A grande diversidade de peixes, aliada a um ambiente muito heterogêneo, proporciona uma combinação de características que torna Mamirauá um ambiente favorável para avaliar quais são as influências que a variação ambiental exerce sobre a biodiversidade.

Neste trabalho nós realizamos o acompanhamento das espécies de peixes por meio de coletas mensais nos mesmos lagos de várzea da Reserva Mamirauá, cobrindo um período de mais de 20 anos, em três ciclos anuais   2003, 2012 e 2022. Este trabalho totalizou aproximadamente 76 mil peixes identificados, pesados e medidos. Nestes ambientes, nós encontramos mais de 290 espécies de peixes.

Descobrimos que a quantidade de espécies encontradas é inversamente relacionada com a manutenção de sua dominância. Ou seja, quanto mais espécies são encontradas em um local, menor será a capacidade de uma única espécie manter sua dominância ao longo de mudanças ambientais. Encontramos uma forte substituição de espécies dominantes na estrutura e composição da assembleia de peixes, sendo que diferentes grupos funcionais são favorecidos à medida que as mudanças das condições ambientais vão ocorrendo. Esta forte substituição de espécies dominantes alimenta a coexistência das espécies, e este é um mecanismo ecológico que ajuda a explicar como a heterogeneidade ambiental pode contribuir para a diversidade tropical.

Embora este seja um ecossistema que varia naturalmente no espaço e no tempo, nos últimos anos tem-se observado uma tendência para um clima mais quente e seco na Amazônia. Nós descobrimos que, na parte final do estudo, com temperaturas mais altas e níveis mais baixos da água, certos grupos de peixes, particularmente os onívoros e os que se alimentam no fundo, prosperaram mais em detrimento de outros mais especializados, como os piscívoros. Também observamos reduções no tamanho corporal dos peixes e níveis mais elevados de mudança na composição – fenômenos que foram relatados em muitos outros ecossistemas em todo o mundo. Estas tendências precisam ser conhecidas em maior profundidade, para podermos entender de que modo este processo contínuo de alteração ambiental poderá afetar a biodiversidade dos trópicos de uma forma geral, e a diversidade, riqueza e abundância de peixes na várzea amazônica em especial. Entendendo como funcionam estes padrões, estaremos mais preparados para combater seus efeitos, e proteger este rico patrimônio que é a riqueza e diversidade de peixes da Amazônia.

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