Comunidades da Ilha das Pracuubinhas (PA) fortalecem produção agroextrativista com apoio do Instituto Mamirauá

Publicado em: 24 de setembro de 2025

Iniciativa que integra ciência e saberes locais fortalece a produção agroextrativista, estimula o associativismo e promove alternativas sustentáveis de geração de renda para comunidades tradicionais de Gurupá (PA).

Na Ilha das Pracuubinhas, em Gurupá (PA), comunidades tradicionais vêm fortalecendo sua produção agroextrativista por meio de um conjunto de ações que integram o projeto Floresta+ Amazônia, modalidade comunidades. A iniciativa é realizada pelo Instituto Mamirauá, em parceria com a Embrapa Amapá e tem como beneficiária a Associação dos Produtores Agroextrativistas e Pescadores do Rio Barbosa e Comunidades do Entorno do Distrito de Itatupã (ASPRORIOS), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). 

Segundo Emanuelle Pinto, coordenadora do Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá, o projeto atua em três frentes principais: o manejo de açaizais, o fortalecimento da gestão participativa da associação e a adoção de boas práticas de extração de óleos florestais. Para ela, uma das maiores contribuições do trabalho é mudar a percepção sobre o cultivo do açaí. 

Com duração de 20 meses, o projeto beneficia diretamente cerca de 135 pessoas das comunidades São Pedro do Rio Crispim, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Furo Seco, São Cristóvão, São Benedito, São Mateus, Rio Moura e Tauari. As ações buscam promover práticas agroecológicas a partir do manejo sustentável de açaizais nativos e quintais agroflorestais, além do fortalecimento das cadeias produtivas de óleos vegetais como andiroba e pracaxi. 

Desde o início das atividades, em junho de 2024, o projeto já realizou 14 ações de mobilização comunitária, fortalecendo o diálogo com as comunidades beneficiárias e ampliando a participação nos processos de decisão. Entre os destaques está o seminário de abertura, que apresentou os objetivos da iniciativa e definiu os primeiros passos coletivos, além de diversas oficinas de formação, como atividades de comunicação comunitária com foco na juventude, construção de estufa para secagem de sementes e capacitações em manejo sustentável de açaizais. Também foram promovidas oficinas de fortalecimento organizacional e reuniões periódicas do comitê executivo. Essas iniciativas vêm consolidando tanto a estrutura material quanto a capacidade coletiva da associação e de suas comunidades. 

Conhecimento em prática: manejo de açaí e extração de oleaginosas 

Em setembro, no marco das últimas etapas do Floresta+ Amazônia, o projeto entrou em sua fase final de capacitações, reunindo moradores das comunidades para as oficinas de manejo sustentável dos açaizais e de boas práticas de extração de oleaginosas, como a andiroba e o pracaxi. Essas oficinas representam a aplicação prática dos conhecimentos compartilhados ao longo do projeto, garantindo que a experiência científica e técnica seja incorporada ao cotidiano das famílias e ampliando as condições de produção, renda e conservação da sociobiodiversidade. 

Os quintais agroflorestais têm papel estratégico no contexto amazônico, especialmente em territórios como a Ilha das Pracuubinhas. Ao integrar espécies florestais, frutíferas e oleaginosas em um mesmo espaço, esses sistemas contribuem diretamente para a segurança alimentar das famílias, garantindo diversidade de alimentos ao longo do ano e reduzindo a dependência de mercados externos. Além disso, funcionam como uma forma de resiliência ambiental, já que permitem ajustar o plantio às condições locais, respeitando os ciclos da natureza e a disponibilidade de recursos. 

Para Emanuelle Pinto, essa etapa é fundamental para ampliar o olhar sobre o potencial dos açaizais.  

“Um dos principais benefícios de discutir e realizar o manejo de açaizal nessa região é desconstruir a ideia de que quanto mais açaí, mais produtiva é a área. A produtividade de um açaizal sadio está na diversidade de espécies, no consórcio com o manejo de abelhas e no fortalecimento da consciência ecológica para garantir renda e soberania alimentar”, destaca. 

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Para o pesquisador da Embrapa Amapá, Marcelino Carneiro Guedes, o manejo de açaí e oleaginosas é essencial para a sustentabilidade da produção e para abrir novas oportunidades de mercado. 

“O açaí é a base da soberania alimentar de milhões de famílias no estuário amazônico. Com o manejo adequado, é possível estender a safra, garantir o consumo das famílias durante todo o ano e, ao mesmo tempo, reduzir custos e riscos da atividade. Isso gera renda e melhora a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas”, destaca o pesquisador. 

Ele também ressalta o potencial das espécies oleaginosas na sociobiodiversidade da região: 

“A andiroba e o pracaxi são plantas tradicionais da Amazônia, cujos óleos são usados há gerações para fins medicinais. Hoje, com tecnologias simples, como a prensa artesanal a frio, as comunidades conseguem produzir óleos de maior qualidade, atendendo inclusive às exigências da indústria de cosméticos e de fitoterápicos.” 

Para Guedes, a integração entre ciência e saber tradicional é o que garante os resultados mais duradouros: 

“O conhecimento técnico-científico se soma ao saber local das comunidades. Essa união é fundamental para manter a diversidade, melhorar a produção e assegurar que a floresta continue oferecendo seus benefícios para as próximas gerações.” 

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Caminhos de sustentabilidade e fortalecimento comunitário 

Para a coordenação da ASPRORIOS, o projeto deixa um legado que vai além das práticas produtivas, resultado também da parceria com instituições como o Instituto Mamirauá, que contribuiu com apoio técnico e metodológico em todo o processo. Segundo Marcos Sussuarana, coordenador técnico da associação, a experiência reforça o papel do associativismo e da organização comunitária como caminhos para a sustentabilidade. 

“Nós entendemos que estamos concluindo um ciclo importante da implementação do projeto Floresta+ Amazônia, e acreditamos que os resultados vão potencializar a nossa caminhada. As conquistas do manejo com mínimo impacto e dos sistemas agroecológicos dão uma direção de sustentabilidade, de viabilidade e de melhoria da qualidade de vida das comunidades”, afirma. 

Ele ressalta ainda que o maior desafio é manter viva a mobilização coletiva: 

“O processo de participação da comunidade é uma transição, que já tem sementes e referenciais para o futuro. Agora a nossa luta é fortalecer a organização, o associativismo e levar esse debate para outras comunidades.” 

A percepção dos moradores reforça esse legado. Para Josimara, extrativista de andiroba do Rio Moura, o curso trouxe novos conhecimentos sobre o aproveitamento das espécies da floresta e a importância de valorizá-las no dia a dia: 

“A gente precisa, na floresta, trabalhar com esses produtos. Tem muita coisa aqui que nos é oferecida de graça e que a gente nem usa. A gente deixa passar, a maré leva, os bichos comem e aquilo vai se acabando. Eu gosto de trabalhar com esse tipo de coisa, eu tiro a andiroba há bastante tempo, e agora aprendi mais também sobre o pracaxi. Esse conhecimento ajuda a gente a aproveitar melhor o que a floresta oferece.” 

 Para saber mais sobre a iniciativa Floresta + Amazônia: https://www.florestamaisamazonia.org.br/

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Texto e fotos: Julia A. Rantigueri

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