Projetos em parceria com comunidades tradicionais do Pará, Amapá e Amazonas são lançados no Salgado Paraense

Publicado em: 17 de abril de 2025

Iniciativas de desenvolvimento sustentável contemplam unidades de conservação, terras indígenas e áreas produtivas prioritárias para a conservação em um total de 4,8 milhões de hectares

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Crédito: Virgilio Machado

Nos dias 8 e 9 de abril, o município de Marapanim, na costa paraense, foi palco do Seminário de Abertura dos projetos Entre Águas Amazônicas e Sustenta Mangue, iniciativas voltadas ao fortalecimento da governança e à promoção do desenvolvimento sustentável em comunidades tradicionais da Amazônia.

O evento, organizado pelo Instituto Mamirauá em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), contou com a participação de lideranças comunitárias do Pará e Amapá, de autoridades de diversas instituições, da academia e parceiros dos projeto, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) participou por videoconferência.

O projeto Entre Águas Amazônicas é implementado pela FAO e o Instituto Mamirauá, com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), enquanto o Sustenta Mangue é implementado pelo Instituto Mamirauá e financiado pela Fundação Gordon e Betty Moore. A mesa de abertura dos projetos foi composta por por Claudia Czarneski (MCTI), Javier Villanueva (FAO), Willian Ricardo da Silva (ICMBio), Maria Regina Carvalho (Sema - Amapá), Renilde Piedade da Silva (Confrem e Rede Mães do Mangue), Patrick Passos (Rede de Pesquisa em Conservação e Uso Sustentável dos Caranguejos na Costa Paraense), Juliana da Costa Silva (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), Orlando Palheta Lobato (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará - Sedap) e Dávila Corrêa (Instituto Mamirauá).

Javier Villanueva tratou da importância das iniciativas, destacando que "na área da pesca e da aquicultura, a FAO atua por meio da transformação azul. Este projeto vai contribuir para a transformação azul dos sistemas alimentares aquáticos no Brasil, onde, por meio das comunidades de reservas extrativistas, vamos buscar um manejo sustentável dos recursos pesqueiros e potencializar a contribuição desses recursos para a segurança alimentar, para os meios de vida das pessoas e para a melhoria da renda familiar."

Dávila Corrêa lembrou que o Instituto Mamirauá foi germinado na Universidade Federal do Pará e no Museu Emílio Goeldi, mas, por 25 anos, concentrou as suas ações no Médio Solimões, no Amazonas. Após a mesa de abertura, ela declarou em entrevista: “A nossa história está vinculada à criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a primeira deste tipo no Brasil. Neste momento, estamos expandindo a nossa atuação para todo o bioma amazônico. É simbólico para o Instituto e para mim, pessoalmente, como paraense. É um enorme orgulho apresentar para os meus colegas a força da nossa cultura e do nosso povo”.

Ações de capacitação e valorização comunitária

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Crédito: Virgilio Machado

A fala foi aberta a todas as pessoas. O destaque foi a participação de lideranças da costa paraense e do Amapá. Laércio Amoras, presidente da Associação de Usuários da Reserva Extrativista (Resex) Maracanã (PA), afirmou que “o projeto, que a gente já vem discutindo há uns 2 anos, foi hoje consolidado pra que venha fortalecer, não só a cadeia produtiva, mas trazer as informações e a qualidade de vida."

As iniciativas buscam fortalecer o desenvolvimento econômico sustentável através do manejo de recursos naturais, a exemplo do manejo do caranguejo, do pirarucu, do jacaré, de recursos madeireiros e não madeireiros, dos sistemas agroecológicos e do turismo de base comunitária.

A amplitude do projeto é assim percebida por Renilde Piedade, coordenadora geral da rede Mães do Mangue: "Vai ter palestras, vai ter reuniões, vai ter capacitações, então o projeto está sendo muito importante, e sei que isso é uma coisa grandiosa para o nosso município"

Com formato híbrido – presencial e online – a programação do Seminário de Abertura foi pensada para fomentar o diálogo entre saberes tradicionais e científicos e, fundamentalmente, aprofundar a consulta às lideranças comunitárias dos territórios em que os projetos incidem. O primeiro dia contou com a apresentação dos objetivos do seminário, seguido pela mesa de abertura com a participação de autoridades locais e representantes institucionais. Dávila Corrêa, diretora do Instituto Mamirauá, apresentou os principais eixos dos projetos. Em seguida, Anderson Bonilha (FAO) abordou aspectos relacionados à governança e às partes interessadas.

No período da tarde, o momento “Assuntando” transferiu o protagonismo do evento para as comunidades, proporcionando um espaço para que compartilhassem suas rotinas, desafios e expectativas.

Escuta ativa e construção participativa

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Crédito: Virgilio Machado

" A ideia é a gente se reunir para conversar, fazer as articulações para levar projetos pra dentro do município, haja vista que o município tem muita carência de projetos, e a ideia é muito desenvolvimento humanitário, comunitário e social. A gente está sentando, nesse primeiro momento, pra fazer o levantamento de dados, para fazer as atividades mais assertivas dentro dos nossos territórios", explicou Mailton dos Santos, presidente da Associação de Usuários da Resex Chocoré Mato Grosso em Santarém Novo.

Dávila Corrêa resumiu a importância do momento de escuta, ao apontar que “queremos que os projetos se encaixem na realidade dos territórios e respeitem os tempos e modos de vida locais”.

O segundo dia foi dedicado à construção coletiva. Comunidades e equipe do Instituto Mamirauá trabalharam juntas na definição do Plano de Ação Anual.

Educação, comunicação e cultura são pilares do projeto

Cauane Leal, do Amapá, uma das lideranças da Associação de Mulheres Extrativista Sementes de Araguari ressalta que o "projeto vai somar muito com a gente. Porque, hoje, a nossa associação está precisando de mais qualificação para os nossos jovens e para as nossas mulheres".

Virgílio Machado, coordenador de Comunicação do Instituto Mamirauá, conduziu a oficina sobre Comunicação e Engajamento das Partes Interessadas, destacando a importância de um plano participativo e inclusivo. “Queremos garantir que a informação chegue a cada um e a cada uma de forma clara, respeitosa e eficaz e que seja uma comunicação dialógica, com fala ativa e escuta ativa, de todas as partes”, explicou.

Outro momento marcante foi a votação coletiva para a escolha dos nomes dos projetos. Assim nasceram Sustenta Mangue e Entre Águas Amazônicas, este último também lançado em Tefé (AM) nos dias 1 e 2 de abril, com a participação de comunidades amazonenses.

Projeto firma compromisso com o futuro da Amazônia

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Crédito: Virgilio Machado

A etapa final do seminário foi marcada por apresentações artísticas e criativas. A relatoria gráfica do evento, desenvolvida ao vivo pelos artistas Potira e Brendal Farias, traduziu em ilustrações os principais momentos e emoções do encontro. Em clima de festa e reflexão, o carimbó embalou as atividades nos intervalos, abertura e encerramento, valorizando a cultura local.

Anderson Bonilha, da FAO, resumiu a importância do evento. “As comunidades são as beneficiárias do projeto. Mas são também os nossos parceiros. O engajamento é fundamental para o alcance dos resultados”, afirmou.

Conheça os projetos

Projeto Entre Águas Amazônicas

O projeto Entre Águas Amazônicas atua em cerca de 4,8 milhões de hectares distribuídos entre unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas produtivas nos estados do Pará, Amazonas e Amapá. Seu objetivo é fortalecer a gestão participativa dos recursos naturais para promover o desenvolvimento sustentável, conservar a biodiversidade, manter os estoques de carbono e melhorar as condições de vida de comunidades tradicionais.

Entre as ações previstas estão:

  •     Capacitação de lideranças comunitárias e apoio à gestão local;
  •     Implementação de planos de manejo sustentáveis;
  •     Fortalecimento de cadeias produtivas como o manejo do caranguejo-uçá, pirarucu, jacarés, recursos madeireiros e não madeireiros, agroecologia e turismo de base comunitária;
  •     Monitoramento da biodiversidade e construção de estratégias de governança participativa.

Informações gerais:

  •        Financiador: Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF)
  •     Entidade executora: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) 
  •     Agência: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) 
  •     Implementadora: Instituto Mamirauá
  •     Duração: 48 meses

 Público beneficiado: 8.623 pessoas (4.408 mulheres e 4.215 homens)

Projeto Sustenta Mangue

Focado na costa do Pará, o Sustenta Mangue tem como missão contribuir com um futuro participativo e sustentável para os manguezais amazônicos. Com atuação em cerca de 700 mil hectares de 14 unidades de conservação, o projeto busca combater ameaças como sobre-exploração de recursos, poluição e mudanças climáticas.

Entre suas estratégias estão:

  •      Capacitações técnicas e programas de educação para a gestão sustentável dos recursos;
  •      Desenvolvimento de Planos de Gestão e de Uso Público
  •      Fortalecimento da governança local e das estruturas decisórias
  •      Coleta e monitoramento de dados sobre biodiversidade e impactos humanos.

Informações gerais:

  •      Financiador: Fundação Gordon and Betty Moore
  •      Entidade executora: Instituto Mamirauá
  •      Duração: 36 meses

Os projetos serão implementados nos seguintes territórios:

PARÁ

  •     Reserva Extrativista  de São João da Ponta
  •     Reserva Extrativista Chocoaré-Mato Grosso
  •       Reserva Extrativista  Mãe Grande de Curuçá
  •     Reserva Extrativista Marinha de Soure
  •     Reserva Extrativista Marinha Mocapajuba
  •     Reserva Extrativista Marinha Cuinarana
  •     Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo
  •     Reserva Extrativista Marinha do Maracanã
  •     Reserva Extrativista Marinha de Tracuateua
  •     Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu
  •     Reserva Extrativista Marinha de Araí-Peroba
  •     Reserva Extrativista Marinha de Gurupi-Piriá
  •       Área de Proteção Ambiental Algodoal-Maiandeua
  •     Reserva Extrativista Filhos do Mangue
  •     Reserva Extrativista Viriandeua 

AMAZONAS

  •     Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus
  •    Terra Indígena Jaquiri
  •     Comunidade da Missão
  •     Comunidade Santa Maria
  •     Comunidade Santa Clara
  •     Comunidade Santa Cruz
  •       Complexo de Lagos Jurupari Grande
  •       Complexo de Lagos do Paraná do Jacaré (Capivara)
  •       Complexo de Seringa (Joacaca)
  •       Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna
  •    Terra Indígena Porto Praia

AMAPÁ

  •       Floresta Estadual do Amapá
  •       Floresta Nacional do Amapá

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