Pirarucu manejado nas Reservas Mamirauá e Amanã pode ultrapassar 600 mil kg

Publicado em: 28 de julho de 2017

Valor corresponde a cota de pescado autorizada para o ano de 2017, que é de 13.763 pirarucus. A temporada de pesca manejada começa em setembro

"Hoje é dia de negociação! ", anunciava Ana Claudia Torres, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá. Diante dela, uma plateia de pescadores e compradores em potencial estava reunida para a Rodada de Negócios de Pirarucu. O evento, realizado pelo Instituto Mamirauá, está em sua 11ª edição e aconteceu nessa sexta-feira (28), no Centro de Treinamento Irmão Falco, em Tefé.

Na Rodada de Negócios, são estabelecidos preços e divulgadas as espécies e quantidades de peixe de interesse para o mercado. A cota autorizada pelo Ibama para pesca foi de 13.763 pirarucus, o que corresponde a uma expectativa de produção de 668.150 kg de pescado. A temporada de pesca deve acontecer durante os meses de setembro a novembro.

"Este ano tivemos mais de vinte compradores que demonstram interesse pela produção.  Deste total, 15 estiveram presentes na Rodada de Negócios.  Inclusive, entraram em contato compradores de Manaus, Santarém e Pernambuco. Além, de compradores locais que pela primeira vez participaram da Rodada", informa Ana Claudia Torres. Além do pirarucu, outras espécies da região são negociadas, como o tucunaré, o surubim e o mapará.

O peixe comercializado vem do interior e entorno das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, estado do Amazonas. Na região, existem treze acordos de pesca que realizam o manejo de pirarucu, um trabalho que dura o ano inteiro e envolve o planejamento, a contagem, monitoramento e a captura de espécimes. Tudo para garantir o equilíbrio ambiental e a longevidade da pesca para gerações futuras.

Todo o processo é assessorado pelo Instituto Mamirauá, que foi o responsável por desenvolver a metodologia de manejo de pirarucu em áreas de florestas alagadas, como é o caso da Reserva Mamirauá. De acordo com o levantamento do Programa de Manejo de Pesca, aproximadamente 2.000 pessoas são beneficiadas com a atividade.

O preço do manejo

Alcimar Batista Marques é uma dessas pessoas. Ele coordena o Acordo de Pesca Jutaí-Cleto, na Reserva Mamirauá, que em 2017 terá uma cota de pesca de 2.250 pirarucus. "Esse peixe não é batido, o destino dele é uma área em que é bem tratado, bem eviscerado. A todos que vendemos, nunca houve um peixe estragado, roxo. É um peixe de qualidade, que leva a marca do manejo", garante.

Durante as apresentações na Rodada de Negócios, Alcimar lembrou aos compradores do mercado local o quanto custa pescar o pirarucu de acordo com a legislação. "Para chegarmos a esses 2.250 peixes, nós tivemos muito gasto, muitos problemas com invasores, muitas horas no sol e cuidado para entrar no igapó para poder conseguir essa cota. Quando pedimos um preço mais alto no pescado, é porque nosso trabalho tem um custo bem maior de quem faz a pesca clandestina".

Participação feminina

Apesar de ainda ser enxergada como uma ocupação masculina, existem muitas mulheres dedicadas à pesca. No manejo do pirarucu não é diferente, como atesta Eurilúcia Marinho, uma das coordenadoras do Acordo de Pesca Paraná Velho, na Reserva Amanã. "No nosso acordo, existe uma grande participação das mulheres, no flutuante (de pré-beneficiamento), que trabalham junto comigo, não só na organização da cozinha, mas também na vigilância e em outras atividades", afirma. "Eu garanto a qualidade do nosso peixe e estou aqui para conversar com os compradores e fazer um bom negócio".  No encontro deste ano, a novidade foi o Prêmio Edna Alencar, que reconhece os grupos com participação de mulheres na pesca. Foi a primeira edição do prêmio e nove projetos de manejo receberam o reconhecimento por incentivar e valorizar a participação feminina na atividade.

Encontro de Manejadores

Um dia antes da Rodada de Negócios, quinta-feira (27), aconteceu o 10º Encontro de Manejadores de Pirarucu. É o momento em que os manejadores analisam as ações e resultados do manejo praticado no ano anterior e discutem melhorias para a próxima temporada. Ana Cláudia Torres informa que nessa edição do encontro foi reforçado o tema da regulação da pesca. "A ausência do Estado, na fiscalização e combate à pesca clandestina, é sempre um problema em termos de garantia da produção legal", afirma.

"Falamos também das nossas ações como assessoria técnica do Instituto Mamirauá buscando alternativas de agregação de valor ao produto. Uma delas, de forma prática, é a adaptação de tecnologias para os flutuantes de evisceração", complementa. "Isso permite um produto visualmente melhor e com garantia controlada para uma outra estratégia que estamos buscando que é o marketing em torno do pirarucu manejado e lançar esse produto fora do estado, fazer conhecer o pirarucu e o manejo da região".

Durante o Encontro de Manejadores, também foram apresentados os grupos que tiveram as melhores práticas no manejo de 2016. A premiação certifica os melhores grupos nas categorias: organização coletiva, sistema de vigilância, eficiência da pesca, monitoramento, maior peixe, entre outras. 

Texto: João Cunha

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