Pesquisadores fazem primeiros testes de imagem da tecnologia Providence na Amazônia

Publicado em:  8 de maio de 2017

Projeto  propõe um método inovador de monitorar espécies de animais na Amazônia. Os testes inaugurais aconteceram na Reserva Mamirauá (AM)

Imagine ter informações sobre a biodiversidade da Amazônia em tempo real, tudo em seu computador ou smartphone, a poucos cliques de distância. Muito além de um item de curiosidade, essa pode ser uma maneira inovadora para monitorar e proteger a biodiversidade da maior floresta tropical do mundo.

Essa é a meta do Projeto Providence, uma parceria internacional de pesquisa, liderada pelo Instituto Mamirauá. Em abril, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas, tiveram início os primeiros testes das tecnologias que farão parte do Providence.

Os resultados foram promissores para a equipe de cientistas do Instituto Mamirauá e da australiana Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO). "A maioria dos testes que fizemos na floresta mostraram bom desempenho das tecnologias, na captação de imagens de animais e também na transmissão de dados para diferentes distâncias", contou Ross Dungavell, engenheiro sênior da CSIRO.

O que é o Providence?

Essa é a pergunta que os pesquisadores buscam responder e cujo caminho começou a se mostrar com as provas feitas in loco na Amazônia.

O coordenador de monitoramento do Instituto Mamirauá, Emiliano Esterci Ramalho, explica que o projeto Providence "irá revolucionar a forma de monitoramento da biodiversidade na Amazônia através da criação de uma tecnologia que irá identificar espécie, em tempo real, por imagem e som, e enviar estas informações de qualquer lugar da Amazônia".

"A tecnologia precisa resistir as condições da floresta amazônica e, por isso, a fase de testes é tão importante", destaca. "Mamirauá é o lugar ideal para testarmos essa tecnologia porque representa condições e desafios de muitos ambientes na Amazônia. E isso é fundamental para que os módulos Providence funcionem bem em outras áreas da floresta amazônica", avaliou Ross.

O engenheiro australiano cita alguns dos principais desafios do projeto, vividos por ele durante os cerca de 15 dias de trabalho em campo. "Obter energia para o sistema, sem dúvida, é um desses desafios, e se adaptar ao fato que na região chove muito, é bastante úmido e também existem onças, macacos e diversos outros animais na Amazônia que poderão tentar desmontar os equipamentos", disse.

Tecnologia e natureza em diálogo

De barco a motor e a pé, a equipe, que é formada também pelos pesquisadores e engenheiros Ash Tews, Philip Valencia e Lachlan Currie, percorreu longos trechos dos mais de 11.000 km² da Reserva Mamirauá.

Foram testadas tecnologias de gravação e detecção de espécies de animais por imagem, como um dispositivo que associa imagens em alta definição com as de câmeras infravermelho. Esse tipo de câmera, também conhecido como câmera térmica ou termal, detecta o calor e é muito útil no período noturno.

"O equipamento pode ‘ver o calor dos animais em condições de escuridão extrema. Além disso, ele tem um alcance muito maior que as armadilhas fotográficas geralmente usadas", diz o pesquisador sênior Ash Tews, responsável pela tecnologia. "A ideia é unir esses métodos para aumentar a eficiência do equipamento na identificação de espécies".

Em apenas duas semanas na Reserva Mamirauá, os pesquisadores reuniram o equivalente a 2 Terabytes de imagens gravadas do cotidiano da floresta, com centenas de ocorrências de animais, de singelas mucuras até grandes jacarés amazônicos. Um material de valor que, ao fim da construção do Providence, poderá ser transmitido para diferentes lugares do mundo.

Para transmitir esses dados, é preciso de um sistema de comunicação potente. Os pesquisadores testaram antenas de alta e baixa frequência dentro da floresta e da mata até uma antena de comunicação instalada em uma torre na Pousada Flutuante Uacari, iniciativa de turismo de base comunitária localizada dentro da reserva.

Para efetuar os testes, a equipe enfrentou grandes alturas, como os mais de 30 metros de uma samaumeira, imponente árvore da região. "Para levar os sons e imagens da floresta para o resto do mundo, precisamos de pontos altos, acima da copa das árvores", explicou Ross. "As transmissões de curtas (até 5 km) e grandes distâncias (10 km) foram bem-sucedidas".

Próximos passos

De volta à Austrália, a equipe da CSIRO segue em parceria com o Instituto Mamirauá e os outros parceiros do projeto no desenvolvimento das tecnologias, tendo consigo agora o conhecimento das adaptações e estruturas que serão necessárias para que o equipamento funcione na Floresta Amazônica. Os novos testes acontecem daqui a 6 meses, novamente na Reserva Mamirauá. "Essa é apenas a primeira fase do Providence. Ainda há muito trabalho pela frente, mas os avanços que tivemos com os testes foram bastante significativos", afirmou Emiliano.

Junto com o Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, e da CSIRO, fazem parte do Providence o Laboratório de Aplicações Bioacústicas da Universidade Politécnica da Catalunha, por meio da Fundação Sense of Silence, e a Universidade Federal do Amazonas. O projeto conta com um financiamento de 1,4 milhão de dólares (cerca de 4,36 milhões de reais) da organização filantrópica e de apoio a ciência e biodiversidade Fundação Gordon and Betty Moore.

Texto: João Cunha

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