Pesquisadores criam método para uso de drones na contagem de botos na Amazônia

Publicado em: 27 de junho de 2017

Expedição cientí­fica, uma parceria do Instituto Mamirauá e WWF-Brasil, fez testes para refinar o emprego da tecnologia na contagem dos golfinhos de água doce

Cento e dez quilômetros voados sobre rios e lagos na Amazônia. Cinquenta ví­deos gravados, tomadas aéreas com cenas inéditas de observação e comportamento de botos, somando mais de dez horas de material para análise. Pesquisadores do Instituto Mamirauá e do WWF-Brasil concluíram, nessa terça-feira (20), a segunda expedição para testar a contagem de botos amazônicos com uso de drones.                                                                                                                             

Por cinco dias, eles percorreram longos trechos na extensão e entorno do rio Jarauá, no interior das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, estado do Amazonas. A região é morada de botos-vermelhos (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis), focos da pesquisa. No período, foi registrada mais de uma centena de observações de botos, unindo a contagem tradicional com a captação de imagens por drones.

"Para a pesquisa, o uso de drones é um avanço muito grande, que tem facilitado e tornado muito mais ágil a obtenção de resultados sobre os botos", considera Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamí­feros Aquáticos da Amazônia do Instituto Mamirauá.

Habitantes de águas turvas, os botos amazônicos são difíceis de serem vistos e estudados em natureza. As aparições na superfí­cie, momento em que respiram, são rápidas e mostram somente partes de sua anatomia. Frustação para espectadores comuns e um enorme desafio para os pesquisadores, mesmo os mais experientes, na missão de entender e planejar estratégias de conservação para esses animais.

Para filmar, de cima, o habitat dos golfinhos de água doce, os drones se apresentam como uma alternativa tecnológica viável para  as atividades de contagem e monitoramento das espécies. Possibilidade cada vez mais concreta com o avanço dos testes feitos em parceria pelo Instituto Mamirauá - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - e WWF-Brasil.

O especialista em conservação do programa Amazônia do WWF-Brasil, Marcelo Oliveira, aponta que o "ponto-chave dessa expedição foi refinar a metodologia de uso de drones, o que conseguimos depois de muitos testes, discussões e voos com o equipamento, que mostraram na prática o que funciona".

Como funciona o método

A bordo de pequenos e velozes barcos a motor, popularmente conhecidos como "voadeiras", a equipe fez novos testes para contar botos em trechos de rio. Em uma voadeira, vão os observadores: dois na proa (a parte da frente do barco) e um na popa (a parte de trás). São eles os responsáveis por olhar e registrar avistamentos de botos, que é a maneira tradicional de contagem, a 100 metros de uma das margens do rio.

Do alto, a 20 metros acima das cabeças dos pesquisadores, sobrevoa o drone, cujo controle é feito por outra equipe em uma segunda voadeira. Seres humanos e máquina cumprem juntos um trajeto de dois quilômetros ao longo da margem, chamado de "transecto", em tempo e velocidade iguais. Cada teste dura em média treze minutos, quando é feito o pouso e a troca de bateria do drone e tem começo um novo transecto.

"Estamos fazendo um experimento mais controlado, para tentar utilizar as imagens do drone  como um fator de correção do método tradicional, que a gente usa para estimativa populacional de tucuxis", diz a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Daiane da Rosa e uma das organizadoras das expedições. "Essa tecnologia pode elucidar alguns pontos que, durante a observação, nós não conseguimos. Como a formação de grupos de botos, qual é o tamanho daquele grupo, se duas ou três observações vistas pela proa podem ser ou não o mesmo grupo de indiví­duos".

Ecodrones

Os testes fazem parte do projeto Ecodrones, que utiliza as aeronaves não tripuladas para monitoramento de vida silvestre em diversas regiões do Brasil. Na Amazônia, a investigação com botos é pioneira e mira em um problema para a conservação das espécies: a carência de dados sobre densidade e a abundância desses animais.

Na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (em inglês, IUCN), o tucuxi e o boto vermelho aparecem como "dados insuficientes", pela falta de informações como estimativas populacionais e taxas de mortalidade e natalidade.

Parceria internacional

A pesquisadora Miriam Marmontel ressalta a necessidade de desenvolver e difundir o uso de novas tecnologias, como os drones, nas pesquisas com botos em outras partes da Amazônia. "Não basta olhar um rio e fazer uma estimativa para a Amazônia inteira. São várias regiões que tem que ser amostradas pra gente ter um dado geral da estimativa. É uma informação muito importante para saber o status de conservação das espécies", diz.

"Para tratar desse tema, a Fundação Omacha está em contato e parceria com o Instituto Mamirauá e WWF para ajustar o fator de correção da estimativa populacional dos botos", afirmou o biólogo da Fundação Omacha, Ferderico Mosquera, que integrou a expedição. "Eu participei da expedição para aprender a metodologia dos drones para replicar em outros países sul americanos como Colômbia, Equador, Peru, Bolívia. É muito valioso aprender com os colegas que trabalham há mais tempo na área".

Texto: João Cunha      

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