Pesquisa busca identificar biodiversidade de mamí­feros em áreas protegidas da região do rio Jutaí (AM)

Publicado em:  7 de julho de 2015

Pesquisadores do Instituto Mamirauá, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), estão trabalhando os dados cientí­ficos coletados na expedição para a Estação Ecológica (Esec) Jutaí-Solimões e a Reserva Extrativista (Resex) do Rio Jutaí, oeste do estado do Amazonas, no início do ano.

A parceria visa a realização de projetos de pesquisa nessas Unidades de Conservação, tendo como resultado esperado o desenvolvimento de um inventário de mamí­feros, de pequeno, médio e grande porte, com foco principal em primatas, quirópteros (morcegos) e fauna cinegética, ou seja, animais comumente utilizados na caça de subsistência, como é o exemplo de pacas, veados e antas. Outra parte do projeto visa identificar possíveis conflitos entre as populações humanas e felinos.

"É o primeiro passo, saber o que tem nessa região. A gente ainda tem muita dúvida com relação à taxonomia, à classificação e identificação das espécies daqui. Não sabemos qual a distribuição dos bichos, se ela pode ser limitada pelo rio. O potencial da área é grande e o trabalho tende a contribuir bastante para o entendimento desse cenário de maneira geral", comentou Felipe Ennes, pesquisador do Instituto Mamirauá.

Da expressiva diversidade brasileira de mamí­feros estimada, acredita-se que mais da metade ocorra na Amazônia. A "Lista  Anotada  dos  Mamí­feros  do  Brasil" , publicada pela Conservation International do Brasil, aponta que são em torno de 400 espécies conhecidas nesse bioma, sendo cerca de 230 delas endêmicas da região, das 701 espécies de mamí­feros conhecidas no Brasil.

As pesquisas na região do Rio Jutaí foram iniciadas no ano de 2014, a partir de uma demanda do ICMBio. Já foram feitas três expedições para essa área com foco no estudo de mamí­feros. A Resex do Rio Jutaí foi criada em 2002 e possui a área de cerca de 275.500 hectares. Enquanto a Esec de Jutaí-Solimões possui mais de 30 anos de criação (1983), e compreende a área de cerca de 289.500 hectares. Embora sejam Unidades de Conservação criadas há bastante tempo, ricas em biodiversidade e consideradas áreas de relevante importância ecológica pela Unesco, ainda há pouco conhecimento cientí­fico sobre a região.

A realização dos estudos, além de gerar conhecimento cientí­fico, pode nortear polí­ticas públicas na área de conservação e meio ambiente, bem como no planejamento socioeconômico para a região. "Gerando esse conhecimento, podemos entender melhor a Unidade de Conservação para planejar mais adequadamente seu uso. Tanto em termos territoriais, quanto em termos de planejamento de ações a serem executadas", afirmou Rafael Rossato, analista do ICMBio.

Manoel de Lima Lobato mora há três anos na comunidade São João do Acural na Resex do Rio Jutaí. Nascido e criado na região, conhece bem o território e a diversidade da fauna local. Ele era um dos assistentes de campo que guiava os percursos das atividades pelo território da reserva, durante a pesquisa. Contribuiu com os pesquisadores na observação dos animais, identificando as áreas onde poderia haver maior ocorrência de certas espécies. 

Felipe Ennes aponta que o Instituto nasceu de uma proposta que inclui o conhecimento tradicional contando com o envolvimento e a participação dos comunitários. "Não teria como executar uma pesquisa deste porte se não tivéssemos este feedback dos moradores da região sobre as espécies, os locais e características dos animais da região. Ao mesmo tempo, conseguimos aproximar os moradores locais com a realidade da pesquisa cientí­fica o que acaba reforçando a questão da valorização dos recursos naturais e da própria admiração pela biodiversidade em algum ní­vel", comentou.

A proposta é que as pesquisas sejam realizadas até o ano de 2017. Além dessas duas Unidades de Conservação, a parceria entre o Instituto Mamirauá e o ICMBio também vai viabilizar a realização do inventário da biodiversidade da fauna em outras quatro áreas da região: Reservas Extrativistas do Baixo Juruá e Auati-Paraná, Estação Ecológica Juami-Japurá e Área de Relevante Interesse Ecológico Javari Buriti.

"O diagnóstico de fauna contribui dando suporte para os planos de manejo que ainda vão ser desenvolvidos. Ou podem servir para a revisão dos planos de manejo que já existem. Se, por exemplo, o estudo identificar uma espécie endêmica em ameaça, pode se rever o zoneamento ou outras estratégias para proteção da área em que ela vive", reforçou Rafael, do ICMBio. A parceria com o ICMBio também envolve pesquisas com aves, peixes, anfíbios, répteis e um estudo socioeconômico da Resex do Rio Jutaí.

Texto: Amanda Lelis

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