Instituto Mamirauá divulga nota em resposta à Veja

Publicado em:  5 de Janeiro de 2015

O Instituto Mamirauá vem a público esclarecer trechos da reportagem veiculada na edição nº 2407, de 07 de janeiro de 2015, da Revista Veja, intitulada "Eles vão morrer logo mais" sobre a problemática da pesca da piracatinga na Amazônia. Ao contrário do que diz a reportagem, o Instituto Mamirauá vem desenvolvendo pesquisas na região do Médio Solimões que nos permitem afirmar:
- A carência de dados demográficos de botos e jacarés dificulta o entendimento sobre os reais efeitos da pesca da piracatinga sobre as populações dessas duas espécies.
- A isca mais utilizada na região do médio Solimões para a pesca da piracatinga é o jacaré-açu, com participação muito secundária de botos.
- A moratória poderá ser apenas mais uma lei, resultando em prejuízo para as populações ribeirinhas, somado ao fato de que sem um sistema de fiscalização terá pouca eficiência na conservação das espécies.
 
Em 2014, o Instituto Mamirauá lançou o livro "A Mortalidade de Jacarés e Botos Associada à Pesca de Piracatinga na Região do Médio Solimões", em que apresenta detalhadamente todos os argumentos apresentados acima. De forma resumida, ainda é possível conferir os releases divulgados na ocasião:
 
 
Confira, na íntegra, a nota enviada à revista Veja. 
"O Instituto Mamirauá considera muito louvável que questões importantes sobre a conservação da biodiversidade amazônica sejam discutidas por um veículo de comunicação tão prestigiado quanto esta revista. Como a primeira instituição brasileira a chamar atenção para o grave problema do uso de jacarés e botos como iscas na pesca da piracatinga, com um alerta publicado ainda em 2001, o Instituto Mamirauá acredita que quanto mais estas questões forem discutidas amplamente pela sociedade brasileira, maior será a probabilidade de encontrarmos soluções para os grandes problemas socioambientais da Amazônia. Mas lamentamos profundamente que a visão transmitida pela matéria desta revista seja tão pouco fiel aos fatos ao tratar do papel do Instituto Mamirauá. Na publicação do Instituto mencionada na própria matéria, "A Mortalidade de Jacarés e Botos Associada à Pesca de Piracatinga na Região do Médio Solimões", que pode ser baixada gratuitamente do site de Mamirauá por qualquer interessado (www.mamiraua.org.br/pesca-piracatinga), um breve trecho que se refere a registros de abate de iscas durante o ano de 2013, quando não foram registrados abates de botos nas comunidades amostradas, foi utilizado de maneira inapropriada, e apresentado aos leitores como um indicador de que o Instituto Mamirauá nega que exista o abate de botos para este propósito nas regiões onde atua. Qualquer pessoa que proceder a uma leitura da publicação mencionada acima poderá atestar que, desde seu título até a sua última página, são feitas reiteradas menções à prática de abate e uso de botos (bem como de jacarés) como iscas nestas pescarias. Num dos trechos do texto, fica claro que três em cada 10 pescarias de piracatinga ocorridas na região do estudo utilizam-se de botos como iscas. Em outros trechos da mesma publicação são apresentadas abundantes informações sobre como se dá o uso de botos, como eles são capturados pelos caçadores, os preços pagos pelos pescadores ilegais pelos botos abatidos por caçadores para este propósito, o rendimento médio da pesca de piracatingas com uso de botos como iscas, os tipos de pescadores que optam por utilizar botos como iscas, e etc. Portanto, é um grande equívoco afirmar que exista qualquer negação deste abate por parte do Instituto Mamirauá, ou por seus membros. Vale destacar que seguimos um estrito rigor científico na coleta, análise e divulgação de dados cientí­ficos a respeito deste e de outros importantes temas estudados pelo Instituto. Acreditamos que nosso papel, como cientistas, é utilizar as ferramentas da ciência na busca da solução dos grandes problemas amazônicos. Os resultados das pesquisas desenvolvidas até o momento por membros do Instituto Mamirauá sobre este tema não nos autorizam estimar os impactos da atividade sobre as populações das espécies usadas como iscas na pesca da piracatinga simplesmente porque foi demonstrado que há grande variabilidade, tanto espacial quanto temporal, nos padrões desta pescaria na região do Médio Solimões, e também em outras partes da Amazônia onde o problema vem sendo estudado recentemente. Finalmente, consideramos que é muito relevante esclarecer a sociedade sobre o problema de uma forma mais ampla. O problema não se restringe ao fato de uma espécie ser ilegalmente abatida, algo que, por si só, já representaria uma preocupação suficientemente séria. Trata-se aqui de uma crise socioambiental bem mais complexa do que isto. Uma crise na qual várias diferentes espécies da fauna silvestre vem sendo ilegalmente abatidas, e para uma finalidade muito pouco nobre. Uma crise na qual se observa a pesca continuada e insustentável de uma espécie de peixe também nativa da região. Os fatores políticos, sociais e econômicos que levam uma pequena porção dos pescadores da Amazônia a, em resposta à ação irresponsável de alguns frigoríficos, desempenhar uma atividade sabidamente ilegal, devem ser cuidadosamente levados em conta na presente discussão. O Instituto Mamirauá considera que a saída adotada até o momento pelo poder público, de penalizar pequenos produtores que buscam melhorar suas condições de vida, não é a solução adequada para o problema. A discussão, em nossa opinião, é bem mais ampla e deve ser tratada com maior responsabilidade por todos aqueles que se debruçam sobre sua análise e se interessam pela sua solução".

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