Iniciativa de monitoramento da biodiversidade é apresentada em Florianópolis

Publicado em:  3 de agosto de 2018

Sensores de ví­deo e áudio instalados na Reserva Mamirauá já são capazes de identificar 40 espécies. O projeto é resultado de uma cooperação internacional liderada pelo Instituto Mamirauá e financiada pela Fundação Moore

Um painel sobre inovação para conservação da biodiversidade movimentou o último dia do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado de 31 de julho a 2 de agosto, em Florianópolis (SC). Participaram da discussão, os pesquisadores Marcos Dá-ré, da Fundação Certi, de Florianópolis, John Amos, da Skytruth, dos Estados Unidos, e Emiliano Ramalho, do Instituto Mamirauá, que apresentou a iniciativa de monitoramento da biodiversidade - o Projeto Providence - liderado pelo Instituto Mamirauá.

O projeto Providence tem o objetivo de monitorar a biodiversidade, abaixo da copa das árvores, com uma rede de câmeras e microfones escondidos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 600 quilômetros de Manaus, automatizando o processo de monitoramento da fauna brasileira, e identificando as espécies por conta própria, em tempo real. Atualmente, o monitoramento depende geralmente de trabalhos de campo, em que os cientistas percorrem o local realizando registros. Em outras situações, são deixadas câmeras fotográficas com sensores de movimento, que fazem fotos ou ví­deos de animais que passam diante dela.

No caso do Projeto Providence, os módulos instalados não apenas registram a imagem do animal como também identificam a espécie através de um software. As câmeras são alimentadas por energia solar e os dados enviados em tempo real para os pesquisadores via satélite. Na primeira etapa do projeto, o sistema foi instalado em dez módulos de ví­deo e áudio terrestres e era capaz de identificar 40 espécies, incluindo aves, mamí­feros e répteis. A identificação era feita visualmente e também através dos sons que animais produzem como o canto de uma arara ou o urro de um macaco. Um módulo aquático também foi instalado no rio Amanã para a identificação acústica de botos.

"Se a gente continuar pensando que não dá para fazer desenvolvimento com a floresta em pé, a gente vai continuar tendo um cenário de perda da floresta e da nossa biodiversidade. Hoje, nós monitoramos a floresta com imagens de satélite e nós precisamos de tecnologia para dizer o que está acontecendo abaixo das árvores de maneira mais rápida. O projeto Providence vai fazer isso. Com essas respostas, a gente vai gerar informação e se aproximar ainda mais da sociedade ao disponibilizar essas informações", argumentou o pesquisador.

O projeto tem três etapas: a primeira está sendo finalizada na Reserva Mamirauá e tinha o propósito de provar que a tecnologia é possí­vel. A próxima e segunda etapa do projeto é aprimorar a tecnologia, reduzindo os módulos e custos, e por isso, o Instituto Mamirauá está iniciando uma parceria com a Fundação Certi, de Florianópolis. A terceira etapa prevê o monitoramento de uma unidade de conservação inteira e em tempo real, como a Reserva Mamirauá. "É uma meta bem ambiciosa, mas eu acho que a gente tem que sonhar grande", afirmou Emiliano.   

Em seguida, Marcos Dá-ré, da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras, de Florianópolis, falou sobre a necessidade de mais investimentos em inovação e como uma tecnologia pode ser utilizada para a conservação da biodiversidade. O pesquisador citou como exemplo o uso de drones, startups criadas para análise de genôma, além do uso de inteligência artificial. "Imagine cruzar informações de inteligência artificial com o que o Projeto Providence está fazendo. Imagine o impacto disso para o monitoramento. Nós precisamos de talento para gerar essas inovações", afirmou.

O projeto é resultado de uma parceria do Instituto Mamirauá com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a Csiro, agência de pesquisa do governo da Austrália (que inventou o Wifi), e o Laboratório de Bioacústica Aplicada (LAB) da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, com financiamento de US$ 1,2 milhão da Gordon and Betty Moore Foundation.  "Queremos saber como a biodiversidade está sendo alterada pelas mudanças climáticas, pelo desmatamento e pelas obras de infraestrutura", diz Ramalho. "E queremos saber isso rapidamente".

Texto: Linete Martins

 

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