Conhecimento ecológico local contribui para análise de abundância de primatas na Reserva Amanã (AM)

Publicado em: 15 de julho de 2015

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, os comunitários estão contribuindo para mensurar a abundância de primatas da região. Com a união do conhecimento ecológico local com o Método de Amostragem de Distâncias, os pesquisadores do Instituto Mamirauá buscam aprimorar o conhecimento da dinâmica populacional de diferentes espécies de primatas da Amazônia. 

A equipe do Instituto Mamirauá já trabalha há cerca de nove anos com o monitoramento dos primatas em trilhas, como parte do projeto "Monitoramento da Fauna Cinegética e Primatas nas Reservas Mamirauá e Amanã". O trabalho em trilhas começou em 2006 e já totalizou mais de 3 mil km percorridos. O monitoramento é realizado em sete transecções de terra firme na Reserva Amanã. Os animais avistados durante a trilha são registrados através do Método de Amostragem de Distâncias, para que posteriormente seja feito o cálculo de abundância, ou seja, o número de animais presentes na área.

De acordo com Lísley Gomes, bióloga do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), o estudo tem como objetivo avaliar a concordância entre a abundância das espécies de primatas, calculada em trilhas pelo Método de Amostragem de Distâncias, e a percepção da abundância dessas espécies pelos moradores da região.

Para comparar os resultados das trilhas com o conhecimento local, a equipe conduziu entrevistas com 40 moradores de três diferentes comunidades da Reserva Amanã. Os comunitários entrevistados classificaram as espécies em ordem  de abundância, posicionando-as em um ranking. A partir da média das classificações, os pesquisadores estimaram a percepção da abundância dos primatas pelos moradores.

"Tivemos uma forte relação entre as duas metodologias, o que indica que ambas respondem a respeito da abundância das espécies. É muito interessante, pois observamos que houve uma troca de posições das espécies no ranking. Por exemplo, com as trilhas, a gente observa que o macaco de cheiro (Saimiri cassiquiarensis) é o mais abundante, com a ocorrência de grupos grandes. Já o uacari-preto, localmente chamado de bicó (Cacajao melanocephalus), que também possui grupos grandes, ficou em quarto lugar. Na percepção dos moradores locais, o bicó foi o mais abundante", comentou Lísley Gomes. A bióloga reforça que as trilhas são realizadas pela equipe em terra firme, deixando de contemplar algumas espécies que, em certas épocas do ano, ocorrem em maior abundância nos igapós, sendo esta uma lacuna do Método de Amostragem de Distâncias.

A bióloga destaca que os métodos são complementares, e juntos podem contribuir para obter estimativas populacionais mais precisas. "Como os moradores locais percorrem longas distâncias na mata todos os dias, e em diferentes horários, nós acreditamos que a percepção deles pode nos ajudar a melhorar os métodos cientí­ficos que usamos, os quais tem uma série de pressupostos e dificuldades para o ambiente amazônico".

Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no 12º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon), realizado entre os dias um e três de julho na sede do Instituto Mamirauá. Na ocasião, o trabalho foi avaliado como uma das melhores apresentações, classificado em primeiro lugar na categoria painel. O evento tem por objetivo promover a divulgação científica e o debate sobre a conservação da biodiversidade, o manejo de recursos naturais, a gestão de áreas protegidas e os modos de vida das populações locais. Promove a interação acadêmica interdisciplinar, gerando diálogo entre pesquisadores.

Texto: Amanda Lelis

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