Comunidades na Amazônia recebem assessoria do Instituto Mamirauá para manejo e organização social

Publicado em: 10 de março de 2017

A mensagem navega as águas do Rio Castanho no ritmo da baleeira* do Instituto Mamirauá. Em cada comunidade, sítio, flutuante e casa de farinha de mandioca, a educadora ambiental do Instituto, Cláudia Barbosa, repete o convite: "Amanhã tem encontro. É às oito, lá na Betel". Nas primeiras horas de sol do outro dia, um sábado, 18 de fevereiro, as canoas começam a aportar na sede da comunidade Betel, localizada na Reserva Amanã, estado do Amazonas. Logo, a sala número 2 da escola local fica cheia de gente, todos curiosos para saber das novidades trazidas pela oficina "Organização para Manejo e Mediação de Conflitos" do Instituto Mamirauá.

No quadro de giz, o geógrafo Caetano Franco mostra o mapa da Reserva de Desenvolvimento Amanã, uma das maiores áreas protegidas em floresta tropical na América do Sul, com cerca de 2.350.000 hectares. Território que os comunitários conhecem bem e ajudam a conservar. "Essa terra tem uma porção de lagos. São mais de trezentos, isso os conhecidos", garante "Seu" Francisco Queiroz, liderança antiga da comunidade São Francisco do Paraíso, apontando para um ponto do mapa. Com lápis coloridos, canetas e uma folha de papel vegetal sob o mapa, ele e outros participantes da oficina mostram os pontos do território da reserva que cada comunidade utiliza para a pesca, a caça, a agricultura e para o extrativismo. Juntos, traçam assim o mapa participativo da região, com a ajuda de Caetano.

"O mapa é uma ferramenta importante e efetiva em processos participativos para diagnóstico de uso do território", afirma o geógrafo e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Através desses mapeamentos é possível identificar as áreas em que os comunitários fazem uso tradicional de recursos naturais, e posteriormente planejar e organizar atividades de manejo sustentável".

União - Momentos como esse são raridade no Setor Castanho. As cinco comunidades que integram o setor (Monte Carmelo, Monte Sião, São Francisco do Paraíso, Betel e Bom Jesus do Lago Preto) têm relações próximas de parentesco e religião (a maioria dos moradores pratica o protestantismo), mas dificilmente se reúnem para pensar os rumos da Reserva Amanã.

O território é de gestão do Estado em cooperação com as comunidades tradicionais que lá vivem. Para facilitar o processo, a reserva é dividida em setores políticos, como o Castanho. Porém, desde a última atividade da equipe de Educação Ambiental, uma das linhas do Programa de Gestão Comunitária (PGC) do Instituto Mamirauá, na região, em maio de 2016, não houve reuniões nesse sentido. "A coisa mais difícil é as comunidades do setor se encontrarem para discutir o que é do nosso interesse", disse Francisco Assis, líder comunitário de Betel. "Eu acho que muitas vezes o que falta é conhecimento do que fazer".

Um dos objetivos da oficina "Organização para Manejo e Mediação de Conflitos", ação financiada pelo Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é divulgar ideias de direitos e deveres coletivos, organização social e o uso consciente do que a floresta oferece e estimular que as comunidades se fortaleçam. "Vocês são muitos e têm força para motivar os outros e fazer as mudanças que vocês precisam", afirmou a educadora ambiental Eliane Neves.

Estabelecer um acordo de pesca entre as comunidades do Setor Castanho, além de planos de manejo florestal e de pesca para a região estão entre as vontades dos participantes da oficina. O próximo encontro entre eles e os educadores ambientais do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), já têm data e local marcados: dias 19 e 20 de maio, também na sede da comunidade Betel.

Até lá, muita coisa tem que ser feita: cada líder vai marcar reuniões entre as suas respectivas comunidades, informar sobre os novos limites da Reserva Amanã e discutir o que é o manejo e um acordo de pesca, além de mobilizar todos para participarem da Assembleia Geral da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, em abril. Agenda lotada e um novo começo para os moradores do Castanho.

*Tipo de lancha a motor muito usada nos rios da região do Médio Solimões, na Amazônia.

Texto: João Cunha

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