Cientistas apontam influência dos povos pré-colombianos na biodiversidade da floresta Amazônica

Publicado em:  1 de março de 2017

Ao avaliar inventários florestais da Amazônia, cientistas observaram que as grandes concentrações de florestas domesticadas, existentes hoje na região, estão associadas à presença de sí­tios arqueológicos. Os resultados foram divulgados hoje, em artigo cientí­fico na Revista Science, e sugerem que os povos pré-colombianos tiveram um importante papel na domesticação de ao menos 85 diferentes espécies de plantas úteis, como é o exemplo de castanheiras e outras árvores frutí­feras.

O estudo é assinado por um grupo interdisciplinar de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. E os resultados foram alcançados com base na análise de informações de inventários florestais da Rede de Diversidade das Árvores da Amazônia (ATDN) e informações sobre sí­tios arqueológicos da Amazônia, reunidas por especialistas. Entre elas, estão as informações contidas no banco de dados liderado pelo pesquisador Eduardo Kazuo Tamanaha, do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

De acordo com Eduardo, coautor no estudo, os resultados ilustram a força da interdisciplinaridade e importância de correlação de dados cientí­ficos para o conhecimento da região Amazônica. "Pensando a longo prazo, a grande contribuição do trabalho é estreitar os laços entre as duas áreas, botânica e arqueologia. Demonstra a importância de cruzar e discutir estes dados, de diferentes pesquisadores, de começar a propor hipóteses juntos", comentou.

Carolina Levis, que liderou o estudo, explica que os resultados indicam que a flora amazônica é, em parte, uma herança viva de seus antigos habitantes. "Por muitos anos, os estudos ecológicos ignoraram a influência dos povos pré-colombianos nas florestas atuais. Um quarto das espécies de árvores domesticadas por esses povos são amplamente distribuí­das na região e dominam grandes extensões de florestas", disse a pesquisadora, que é doutoranda pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), do Brasil, e pela Wageningen University and Research Center, da Holanda.

Os cientistas destacam que, há anos, a Amazônia é vista como uma região de floresta virgem, intocada pelos homens. O que os estudos arqueológicos vêm demonstrando é que a área já era ocupada por sociedades indígenas organizadas muito antes da chegada dos colonizadores. "O homem não é o problema na Amazônia, o problema é como ele vai agir na floresta. E o exemplo que a gente pode dar é este passado indígena. Mostrar como os indígenas estavam na Amazônia, manejando a floresta, usando os recursos naturais, sem sair desmatando", disse Eduardo.

O coordenador da ATDN, Hans ter Steege, reforça que a descoberta promete esquentar o debate cientí­fico sobre o grau de influência da história humana da bacia amazônica na biodiversidade atual. "E desafia a visão que muitos de nós, ecólogos, tínhamos e ainda temos dessa imensa floresta", disse Hans, que é pesquisador sênior do Naturalis Biodiversity Center.

Arqueologia na Amazônia

Atualmente, há o conhecimento de mais de 3.000 sí­tios arqueológicos dispersos por toda a bacia Amazônica. O Banco de Dados Arqueológicos está sendo organizado por Eduardo desde 2007. Atualmente, o projeto faz parte do seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP), com a orientação do arqueólogo Eduardo Neves, e propõe reunir as informações disponíveis na literatura cientí­fica sobre Arqueologia na Amazônia. A ideia é criar uma espécie de rede colaborativa de informações entre os arqueólogos especialistas na região Amazônica.

O pesquisador ressalta que a iniciativa contribui para uma visualização mais ampla dos estudos arqueológicos na região. "A partir deste banco de dados, muita coisa pode ser feita. Quando a gente joga as informações no mapa, conseguimos ver inclusive os vazios. Áreas onde ainda não foram realizadas pesquisas arqueológicas. E tem também a parte mais interdisciplinar, de planejar outros trabalhos, com relação às florestas antrópicas, ou o gerenciamento do patrimônio cultural dentro de unidade de conservação. Temos muita coisa produzida na Amazônia. Mas, normalmente, quando tem alguma compilação de dados, é muito local ou regional. A ideia é juntar as informações de toda a Amazônia, e se possí­vel da área de transição para o Cerrado também", disse.

 

*Com informações do Instituto Mamirauá, do Inpa e da Science. 

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